quarta-feira, 20 de maio de 2009

Companheiro do Silêncio


O vento no carro fazia curvas. Ia e vinha. Vinha e ia. Fechei os olhos e apurei o sentido da audição, então, surpreendi-me no som do silêncio que vinha da pessoa ao meu lado. Sou muito falante, mas naquele momento tive medo de perguntar ou expressar qualquer coisa. Era um medo diferente, talvez receio, não consegui identificar. Voltei à paisagem que rolava pela janela e busquei alguma coisa que me chamasse a atenção, mas tudo passava rápido demais. Deixei árvores e carros para trás e sem ânimo de voltar os olhos para o que passou continuei a tentar ver qualquer coisa. Então, discretamente olhei para o companheiro do silêncio com uma única certeza, a certeza de que algo era preciso fazer, mas não sabia o que. Voltei do nada de meus pensamentos verificando uma paisagem diferente, um cheiro diferente, um clima diferente. Em um instante pensei ter ouvido o som de um sorriso. Estacionamos, atravessamos a avenida e lá estava ele. O mar. O mar sagrado, o forte mar. O mar que dá força e o mar que tira força. Olhamos o mar de forma individual. "Coloque a mão em meu coração.", pediu-me, e em segundos fiquei em dúvidas qual o lado correto. "Onde fica o coração?" "Onde?", então em um gesto mais do que comum coloquei minha mão sobre o coração dele. Senti pular e pulsar de uma forma fora do normal. Nervosa e sem demonstrar o meu nervoso perguntei se ele sentia algo, se estava passando mal. "Não sei.", respondeu e voltou a ficar em silêncio. Ficamos olhando aquele que fomos visitar, foram 20 minutos de silêncio e de mente vazia, pelo menos a minha. Quanto a mente dele eu não sabia o que se passava, apesar de conhecê-lo muito bem eu ainda não tenho o poder para ler os pensamentos, se é que existiu algum pensamento na mente dele naquele espaço de tempo. Talvez ele estivesse com medo de alguma coisa, algo que viesse acontecer com ele daqui a algum tempo, mas quem não tem medo do amanhã? Quem? Então, também tomada do medo, tive uma vontade enorme de abraçar aquele quem estava do meu lado, de poder chorar até não poder mais e depois dar uma risada do choro convulsivo dizendo: "To legal". Eu estava ali para ajudá-lo e confortá-lo, e sem dar a perceber que quem precisava de atenção era eu, fiquei calada fazendo parte do silêncio. Então pensei dentro de ruído algum: "Sentimento é algo muito estranho", e diante de minha teoria concluí que eu estava sentindo um amor diferente, um amor que só se tem quando há laços sangüínio ou um amor que só tenho a quem possui um sobrenome igual ao meu. Sorri. Apenas sorri e voltei a olhar o mar. Com decisão tomada, ele disse: "Vamos?". Virei as costas para o mar e atravessei a avenida com passos lentos e firmes. Eu queria apenas uma coisa: "um amigo", pois quando se está só o que mais se precisa é de ter um amigo. Eu sentia apenas uma coisa: "o silêncio". Voltei parte do caminho em silêncio. Não queria expressar nada. Queria apenas ouvir a música que tocava em um "dial" qualquer. Fui para casa em silêncio e nunca mais vi este amigo, o meu único amigo verdadeiro.
Autor desconhecido....

Um comentário:

Orly Junior disse...

O silencio muitas vezes é nosso amigo.
Faz a gente olhar para dentro de nos memos de um jeito bom ou ruim, não importa. Amigos não são feitos para nos bajular, não é mesmo?

Mas então depois que você olhara para dentro de si percebe que tem outro amigo. Você mesmo. E só quando passa reconhecer esse amigo, amar esse amigo e perceber que se você não amar o amigo "eu" ninguem jamais poderá te corresponder.