quarta-feira, 20 de maio de 2009

Loja de CDS

Muito interessante esse poema....é bom para refletir....



Era uma vez um garoto que nasceu com uma doença que não tinha cura. Tinha 17 anos e podia morrer a qualquer momento. Sempre viveu na casa de seus pais, sob o cuidado constante de sua mãe.Um dia decidiu sair sozinho e, com a permissão da mãe, caminhou pela sua quadra, olhando as vitrines e as pessoas que passavam. Ao passar por uma loja de discos, notou a presença de uma garota, mais ou menos da sua idade, que parecia ser feita de ternura e beleza.Foi amor à primeira vista. Abriu a porta e entrou, sem olhar para mais nada que não a sua amada. Aproximando-se timidamente, chegou ao balcão onde ela estava.Quando o viu, ela deu-lhe um sorriso e perguntou se podia ajudá-lo em alguma coisa. Era o sorriso mais lindo que ele já havia visto, e a emoção foi tão forte que ele mal conseguiu dizer que queria comprar um CD. Pegou o primeiro que encontrou, sem nem olhar de quem era, e disse: - Esse aqui... - Quer que embrulhe para presente - perguntou a garota, sorrindo ainda mais... Ele balançou a cabeça para dizer que sim e disse: - É para mim mesmo mas eu gostaria que você embrulhasse. Ela saiu do balcão e voltou, pouco depois, com o CD muito bem embalado. Ele pegou o pacote e saiu, louco de vontade de ficar por alí, admirando aquela figura divina.Daquele dia em diante, todos as tardes voltava à loja de discos e comprava um CD qualquer. Todas as vezes a garota deixava o balcão e voltava com um embrulho cada vez mais bem feito, que ele guardava em sua gaveta, sem sequer abrir. Ele estava apaixonado, mas tinha medo da reação dela, e assim, por mais que ela sempre o recebesse com um sorriso doce, não tinha coragem para convidá-la para sair e conversar. Comentou sobre isso com sua mãe e ela o incentivou, muito, a chamá-la para sair. Um dia, ele se encheu de coragem e foi para a loja. Como todos os dias comprou outro CD e, como sempre, ela foi embrulhá-lo. Quando ela não estava vendo, escondeu um papel com seu nome e telefone no balcão e saiu da loja correndo. Alguns dias depois o telefone tocou e a mãe do jovem atendeu. Era a garota perguntando por ele. A mãe, desconsolada, nem perguntou quem era, começou a soluçar e disse:- Então, você não sabe Faleceu ontem. Passado alguns dias mais, a mãe entrou no quarto do filho, para olhar suas roupas e ficou muito surpresa com a quantidade de CDs, todos embrulhados e guardados em sua gaveta.Ficou curiosa e decidiu abrir um deles. Ao fazê-lo, viu cair um pequeno pedaço de papel, onde estava escrito:- Você é muito simpático, não quer me convidar para sair Eu adoraria.Emocionada, a mãe abriu outro CD e dele também caiu um papel que dizia o mesmo, e assim todos quantos ela abriu traziam uma mensagem de carinho e a esperança de conhecer aquele rapaz.
Assim é a vida: Não espere demais para dizer a alguém especial aquilo que você sente. Ainda dá tempo...

EU SEI, MAS NÃO DEVIA


Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque tem curta vista, logo se acostuma a não olhar pra fora. E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite, cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir passado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre guerras, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone, hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios, a ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado da infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar por ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho para ganhar mais dinheiro para ter com que pagar nas filas em que se cobre.
A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável, à contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galos na madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta do pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que as poucos se gasta e que de tanto se acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colassanti

Companheiro do Silêncio


O vento no carro fazia curvas. Ia e vinha. Vinha e ia. Fechei os olhos e apurei o sentido da audição, então, surpreendi-me no som do silêncio que vinha da pessoa ao meu lado. Sou muito falante, mas naquele momento tive medo de perguntar ou expressar qualquer coisa. Era um medo diferente, talvez receio, não consegui identificar. Voltei à paisagem que rolava pela janela e busquei alguma coisa que me chamasse a atenção, mas tudo passava rápido demais. Deixei árvores e carros para trás e sem ânimo de voltar os olhos para o que passou continuei a tentar ver qualquer coisa. Então, discretamente olhei para o companheiro do silêncio com uma única certeza, a certeza de que algo era preciso fazer, mas não sabia o que. Voltei do nada de meus pensamentos verificando uma paisagem diferente, um cheiro diferente, um clima diferente. Em um instante pensei ter ouvido o som de um sorriso. Estacionamos, atravessamos a avenida e lá estava ele. O mar. O mar sagrado, o forte mar. O mar que dá força e o mar que tira força. Olhamos o mar de forma individual. "Coloque a mão em meu coração.", pediu-me, e em segundos fiquei em dúvidas qual o lado correto. "Onde fica o coração?" "Onde?", então em um gesto mais do que comum coloquei minha mão sobre o coração dele. Senti pular e pulsar de uma forma fora do normal. Nervosa e sem demonstrar o meu nervoso perguntei se ele sentia algo, se estava passando mal. "Não sei.", respondeu e voltou a ficar em silêncio. Ficamos olhando aquele que fomos visitar, foram 20 minutos de silêncio e de mente vazia, pelo menos a minha. Quanto a mente dele eu não sabia o que se passava, apesar de conhecê-lo muito bem eu ainda não tenho o poder para ler os pensamentos, se é que existiu algum pensamento na mente dele naquele espaço de tempo. Talvez ele estivesse com medo de alguma coisa, algo que viesse acontecer com ele daqui a algum tempo, mas quem não tem medo do amanhã? Quem? Então, também tomada do medo, tive uma vontade enorme de abraçar aquele quem estava do meu lado, de poder chorar até não poder mais e depois dar uma risada do choro convulsivo dizendo: "To legal". Eu estava ali para ajudá-lo e confortá-lo, e sem dar a perceber que quem precisava de atenção era eu, fiquei calada fazendo parte do silêncio. Então pensei dentro de ruído algum: "Sentimento é algo muito estranho", e diante de minha teoria concluí que eu estava sentindo um amor diferente, um amor que só se tem quando há laços sangüínio ou um amor que só tenho a quem possui um sobrenome igual ao meu. Sorri. Apenas sorri e voltei a olhar o mar. Com decisão tomada, ele disse: "Vamos?". Virei as costas para o mar e atravessei a avenida com passos lentos e firmes. Eu queria apenas uma coisa: "um amigo", pois quando se está só o que mais se precisa é de ter um amigo. Eu sentia apenas uma coisa: "o silêncio". Voltei parte do caminho em silêncio. Não queria expressar nada. Queria apenas ouvir a música que tocava em um "dial" qualquer. Fui para casa em silêncio e nunca mais vi este amigo, o meu único amigo verdadeiro.
Autor desconhecido....

A Sensibilidade Humana.


Nas últimas horas os computadores do mundo inteiro, via internet reproduzem um texto de Gabriel Garcia Marques que vive, lúcido e consciente, seus últimos dias de vida, vítima de um câncer linfático. No Brasil, o primeiro a divulga-lo foi Márcio Moreira Alves, na sua coluna de O globo. Todos se emocionam com a despedida de Márquez, um instante inesquecível da sensibilidade humana: Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo. Daria valor as coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, Vestiria simplesmente, e me jogaria de bruços no solo, deixando ficar a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com o sonho de Von Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria a lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas. Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida. Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes te amo, te amo. Convenceria cada mulher e cada homem que são meus favoritos e viveria enamorado do amor. Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem direito de olhar um outro de cima para baixo para ajuda-lo a levantar-se. São tantas coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo.

Gabriel Garcia Márquez

PRECISA DE UM AMIGO

.
Não precisa ser homem, basta ser humano, bastater sentimentos e basta ter coração.Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.Tem que gostar de poesia, da madrugada,de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventose das canções da brisa.Deve ter amor, um grande amor por alguém,ou então sentir falta de não ter esse amor.Deve amar o próximo e respeitar a dor que ospassantes levam consigo.Deve guardar segredo sem se sacrificar.Não é preciso que seja de primeira mão, nem éimprescindível que seja de segunda mão.Pode já ter sido enganado, pois todosos amigos são enganados.Não é preciso que seja puro, nem que sejade todo impuro, mas não deve ser vulgar.Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, nocaso de assim não ser, deve sentir o grande vácuoque isso deixa.Tem que ter ressonância humana, seu principalobjetivo deve ser o de amigo.Deve sentir pena das pessoas tristes e compreendero imenso vazio dos solitários.Deve gostar de crianças e lastimar as que nãopuderam nascer.Procura-se um amigo para gostar dos mesmosgostos, que se comova quando chamado de amigo.Que saiba conversar de coisas simples,de orvalhos, de grandes chuvas e dasrecordações da infância.Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, paracontar o que se viu de belo e triste durante o dia,dos anseios e das realizações dos sonhos e da realidade.Deve gostar de ruas desertas, de poças de água ede caminhos molhados, de beira de estrada,de mato depois da chuva, de se deitar no capim.Precisa-se de um amigo que diga que vale a penaviver, não porque a vida é bela, mas porquejá se tem um amigo.Precisa-se de um amigo para se parar de chorar.Para não se viver debruçado no passado em buscade memórias perdidas.Que bata no ombros sorrindo e chorando,mas que nos chame amigo, para ter-se aconsciência de que ainda se vive.

Vinicius de Morais

Para o Resto de Nossas Vidas

Existem coisas pequenas e grandes, coisas que levaremos para o resto de nossas vidas.
Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas, depende de cada um, depende da vida que cada um de nós levou.
Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcarão, que mexerão com a nossa existência em algum instante.
Provavelmente iremos pela a vida a fora colecionando essas coisas, colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante.
Cada momento que interferiu nos nossos dias, que deixou marcas, cada instante que foi cravado no nosso peito como uma tatuagem.
Marcas, isso... Serão marcas, umas mais profundas, outras superficiais porém com algum significado também.
Guardaremos dentro de nós e que se contarmos para terceiros talvez não tenha a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los.
Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um e-mail, uma viagem, uma frase que alguém tenha nos dito num momento certo.
Poderá ser um raiar de sol, um buquê de flores que se recebeu, um cartão de natal, uma palavra amiga num momento preciso.
Talvez venha a ser um sentimento que foi abandonado, uma decepção, a perda de alguém querido, um certo encontro casual, um desencontro proposital.
Quem sabe uma amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita luta, um que deixou de existir por puro fracasso.
Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um perfume, um beijo.
Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas dentro de nós.
Umas porque dedicaram um carinho enorme, outras porque foram o objeto do nosso amor, ainda outras por terem nos magoado profundamente.
Quem sabe haverão algumas que deixarão marcas profundas por terem sido tão rápidas em nossas vidas e terem conseguido ainda assim plantar dentro de nós tanta coisa boa.
Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos, a quantidade de marcas que conseguimos carregar conosco e a riqueza que cada uma delas guardou dentro de si.
Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exatamente foi feita a nossa vida, se de amor ou de rancor, se de alegrias ou tristezas, se de vitórias ou derrotas, se de ilusões ou realidades.
Pensem sempre que hoje é só o começo de tudo, que se houver algo errado ainda está em tempo de ser mudado e que o resto de nossas vidas de certa forma ainda está em nossas mãos.